domingo, 26 de julho de 2015

A consciência de Priscila



Eu sangrava, mas não era uma ferida física. Minha alma estava cheia de arranhões profundos. O sangue escorria sobre as minhas pernas. E eu não sentia culpa! Eu sentia medo. Medo do que poderiam achar, do como iriam me condenar, me chamar de monstra ou algo parecido. A verdade é que eu não estava preparada para ter aquilo. Preferia não pensar que já era um ser formado, só tinham algumas semanas, três talvez. Talvez ali não houvesse nada, talvez fosse só algo da minha mente, mas algo estava adquirindo vida dentro de mim, poderia não ser um indivíduo, talvez fosse somente desregulação, o que estava crescendo em mim era medo. Medo de um futuro interrompido ou de uma vida interrompida.  Mas uma coisa era certa. Eu senti medo. Eu tenho uma vida em construção, não teria condições de cuidar de outra vida. E não! Não foi egoísmo meu, foi sensatez. Como cuidar de outro alguém se eu não consigo lidar comigo mesma? Afinal, eu tenho ou não direito sobre o meu corpo? Mas eu me sentia suja, como se eu tivesse feito algo errado, como se eu tivesse matado ou estuprado a alma de alguém. Mas na verdade eu só escolhi a mim. Isso é pecado? Escolhi o meu desejo de viver, de ter condições melhores, de não precisar sentir culpa por outro alguém? Eu chorava no meu quarto, sentia dores indescritíveis no corpo, no espírito, sentia medo, sentia angústia.  O que será que eu fiz? Será que fiz correto? Sentia-me tonta, parecia que eu ia vomitar o meu cérebro, na verdade, eu preferia. Porque eu pensava demais, pensava em tudo, menos em mim.  Eu havia bebido algo quente e amargo, tinha um gosto forte. Bebi, e no outro  dia acordei com dores, tonta, e sangrando.  Cólicas fortíssimas. Pensei em me matar, eu já não iria mais para o paraíso, eu havia feito coisas horríveis, eu seria condenada a um castigo eterno. Eu não seria mais eu. Meu abrigo era a minha consciência, e no momento ela estava conturbada, cheia de dúvidas. Eu tremia e chorava. Desmaiei sobre o meu próprio desespero. Eu era uma menina. Sozinha. Ninguém iria me entender, todos iriam me condenar.  Ao acordar, tomei um banho, tomei algum remédio para dor, coloquei os lençóis para lavar. Sentei na minha varanda e comecei a raciocinar. Não, não sou um monstro! Sou dona de mim! Sou dona do meu destino! Sou dona da minha consciência! Mas também sou dona dos meus medos.


Marii Brandão

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